Um panorama das startups brasileiras
País mais que triplicou número de startups nos últimos anos, conta com mais de uma dezena de “unicórnios” e avança, regional e globalmente. Ou seja: mais oportunidades para PMs e UX designers
Startup às vezes pode soar como algo “mítico”, até meio “gringo”, a quem está conhecendo o mercado de tecnologia agora, a quem atua em empresas tradicionais e sonha em mudar de carreira ou a quem estuda com objetivo de trabalhar em locais inovadores. A sensação pode ser ainda mais comum no Brasil, onde o boom desse tipo de empresa vem ocorrendo sobretudo nos últimos quatro ou cinco anos.
Por causa do marketing a respeito, não faltam lugares-comuns sobre startups no imaginário coletivo: ambientes moderninhos, com pufes coloridos e mesas de sinuca, onde se pode comer salgadinhos ou comida vegetariana sobre o teclado, trabalhar fantasiado de cosplay ou matar tempo andando de skate quando se está sem inspiração (ou só procrastinando mesmo).
Não faltam, inclusive, associações a ambientes um tanto utópicos, onde é possível trabalhar em missões que vão “mudar o mundo”, descobrir um “propósito” profundo ou, quem sabe, se livrar de ter que trabalhar — conceitos que a indústria de tecnologia viu-se obrigada a vender para atrair e manter mão-de-obra, já que a economia do conhecimento é bem diferente de linhas de montagens ou plantations do passado.
Ainda, há um status em se aproximar, trabalhar, ser sócio, fundador ou investidor de startups. É como se fosse mais “inovador”, “empreendedor”, “arrojado”, até “sedutor” largar o emprego tradicional para estar nesse ecossistema. Ou como se a rebeldia política dos boomers e da geração X tivesse migrado, a partir dos millennials, para uma vontade de revolucionar o trabalho.
Imagens oníricas à parte, a realidade é que startups são organizações com fins econômicos, que visam crescimento acelerado, não raro às custas de “queima” de investimentos, se possível a ponto de dominar e “disruptar” (aquilo que o Uber fez com táxis, para ficar fácil de entender) grandes mercados, o que pode envolver resiliência e competição quase “darwinianas” em alguns segmentos.
Por outro lado, elas também são organizações que geram emprego qualificado, contribuem com a economia de um país, impulsionam desenvolvimento da ciência e da tecnologia e são capazes de devolver retornos significativos, seja na forma dos serviços que prestam ou em capital, à sociedade e a quem investe nelas.
Em seus primórdios, nos anos 70 e 80, vistas como empreitadas de jovens nerds enriquecendo a partir de garagens do Vale do Silício, esse tipo de empresa ganhou fama após a bolha das “ponto com”, nos 2000, quando o Google se consolidou, o Facebook surgiu e empresas como Uber e AirBnB definiram o conceito de disrupção. No Brasil, o tipo de negócio ganhou tração da última década para cá.
Como é bastante provável que product managers e ux designers irão ingressar, migrar ou já atuem em empresas do tipo, vale a pena despir um pouco das imagens pré-concebidas e observar a realidade atual das startups no país.
A tendência é que a demanda por profissionais só cresça e que surjam oportunidades em segmentos diversificados e em iniciativas regionalizadas. Os aportes de investimentos e a quantidade de iniciativas não dá sinal de diminuir na década atual e é bem provável que veremos mais iniciativas brasileiras ganhando o mundo. Vamos ao panorama desse universo no nosso país.
Contextualização rápida
Há uma série de definições mais ou menos parecidas para startups, a ponto de até causar alguma confusão com pequenas empresas ou até negócios futuristas. Para simplificar, vamos ficar com a definição da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), que é bastante sucinta e esclarecedora:
“Startup é uma empresa que nasce a partir de um modelo de negócio ágil e enxuto, capaz de gerar valor para seu cliente resolvendo um problema real, do mundo real. Oferece uma solução escalável para o mercado e, para isso, usa tecnologia como ferramenta principal.” — Abstartup
Ótimo, mas o que isso significa? Como comparações nos ajudam quando queremos esclarecer algo, é interessante pensar em startups versus empresas tradicionais, como uma montadora de veículos ou uma mineradora.
“Negócio ágil e enxuto” tem a ver com executar um modelo de negócio (venda de produtos, prestação de serviços) com capacidade de se adaptar (se modificar) rapidamente para encontrar e se ajustar a um mercado, com economia de recursos. Isso vem do conceito “lean startup” (startup enxuta), popular no meio.
A comparação deixa tudo mais fácil: se uma grande mineradora ou mineradora é vista como lenta, requer longos ciclos de planejamento e observância a burocracias, startups são o contrário, feitas para lançar rapidamente um produto ou serviço, testá-lo e melhorá-lo de forma incremental, até conquistar mercado.
“Capaz de gerar valor ao cliente” é a capacidade de oferecer produtos e serviços que clientes, pessoas reais ou outras empresas, realmente necessitam ou desejam; de preferências, as duas coisas juntas.
Tem um pouco a ver com experiências pré-bolha. No começo, muitos modelos de negócios e produtos de tecnologia nasciam nasciam da cabeça de programadores, sem pesquisa de mercado ou qualquer interação com quem usaria a soluções.
O modelo que deu certo foi o de empresas que colocaram necessidades ou desejos de usuários como fator de tração para desenvolvimento de produto, o que fez de UX Design essencial nesse ambiente.
“Oferece solução escalável” quer dizer que permite que o produto (ou serviço) seja utilizado por um grande número de usuários, se possível globalmente, com um custo mínimo para que essa replicação ocorra.
De novo em relação a uma empresa tradicional: uma montadora tem um determinado custo para produzir mais carros iguais aos anteriores — o conceito de custo marginal em Economia. Um serviço digital, por outro lado, pode ser utilizado por mais cem, mil ou um milhão de usuários com um custo adicional por unidade bastante baixo ou até irrelevante. Ou seja, o custo não cresce na mesma proporção que o número de clientes, o que permite ganhos exponenciais.
“Usa tecnologia como fator principal” é, talvez, o aspecto mais visível desse tipo de empresa. Por tecnologia, aqui, o mais comum é subentender “tecnologia da informação”. Mas há entendimentos de que também podem significar outras tecnologias que permitam inovação e disrupção, combinadas ou não com tecnologia da informação, como biotecnologia, tecnologia de novas fontes energéticas ou de novos materiais (plásticos feitos a partir de algas e não de petróleo, por exemplo).
Uma startup normalmente é criada a partir de um produto, serviço ou modelo de negócio completamente novo (caso do Uber e AirBnb, que modificaram o transporte individual de passageiros e o aluguel de imóvel) ou capaz de acrescentar inovação ao que já é feito no mercado (caso do Nubank, que tem descomplicado o acesso a serviços bancários).
O negócio começa com um produto mínimo viável (MVP), o que pode ser um site ou aplicativo, mas vale até solução operada a partir do Instagram ou Whatsapp (de tarô online a venda de assinaturas de cafés especiais), até ganhar um número de clientes que permita sustentar a iniciativa, o que se chama de market-fit.
Como fazer uma startup dar certo, ou seja, atingir o market-fit, não é tão simples quanto gerir uma padaria — há bastante incerteza e risco envolvidos, mas também oportunidades de retornos significativos —, surgiu toda uma série de soluções para investimento nessas iniciativas, o que ajuda a estruturá-las, ao passo que capitaliza com o sucesso delas.
É de onde vem termos como investidor-anjo (pessoas que investem do próprio bolso nessas empresas), venture capital (grupos que compram uma participação no negócio da startup, lucrando se ela der certo), incubadoras e aceleradoras (instituições que visam fornecer conhecimento ou capital inicial mínimo para que ideias se tornem startups) e outros termos que a cada dia se tornam mais populares.
A possibilidade de retornos altos sobre os investimentos também levou a alguns comportamentos peculiares neste tipo de negócio. Um deles é o de “queimar caixa” investido, isto é, aumentar os gastos para forçar uma adoção acelerada do produto e pular etapas até a escalabilidade. Outro é o de fundadores, sócios e investidores saírem do negócio antes da empresa chegar à maturidade, ou seja, vendê-la em seu melhor momento a outras empresas, embolsando, assim, os ganhos sobre os investimentos.
Na prática, quando você vê um serviço dando descontos acima da média do mercado e com frequência, enchendo seu smartphone com notificações de cashback (dinheiro de volta em alguma compra), entre outros benefícios, é provável que isso faça parte de uma estratégia de crescimento artificial, bancado com dinheiro de investimentos, tentando fazer o negócio escalar rapidamente.
É claro que investidores não vão “queimar” esse dinheiro à toa. Por isso, os investimentos são, cada vez mais, em startups promissoras, aquelas que, após estudos, demonstram sustentabilidade e possibilidade de ganhos exponenciais, de modo que vale a pena gastar (investir) mais no momento presente para colher resultados multiplicados no futuro.
Isso dá uma ideia do que é são startups (no fim do texto, há algumas dicas para quem quer entender melhor essa parte de investimentos e outras particularidades). Vamos ao que nos interessa.
Números gerais
Cabe esclarecer que, por se tratar de um assunto recente, pesquisas ou rankings de startups não são algo tão preciso ou unificado quanto relatórios sobre indústrias tradicionais. Os levantamentos são feitos por entidades privadas e podem adotar amostras e interpretações divergentes. A própria diversidade de momentos e volatilidade das startups (pode haver desde meras ideias até iniciativas natimortas nas contagens) também dificulta quantificações e classificações.
Para todos os fins, porém, a Startupbase, da Abstartups, uma fonte citada pela imprensa especializada, calcula em mais de 13 mil (13.552 na data de publicação deste texto), o número de startups brasileiras. A quantidade é uma fotografia do momento e pode mudar rapidamente. Levantamento um pouco mais antigo mostra que o crescimento é vertiginoso: eram 4,4 mil em 2016 e já somavam 12,7 mil em 2019, aumento de 207% no período.
Quanto à localização, a maioria está situada no Estado de São Paulo, principalmente na capital, um dado óbvio, por se tratar da maior economia do país. Depois vem Minas Gerais em segundo, no ranking dos Estados, apesar de Belo Horizonte ser a terceira cidade, atrás do Rio de Janeiro (RJ). Na sequência, vem os estados do Sul e suas capitais.
Os dados mais interessantes são os mercados de atuação e público-alvo. No primeiro, apesar de algumas classificações provavelmente se sobreporem, startups ligadas à educação lideram, com 8,64%, seguidas de “outros” (7,68%) e de finanças (5,89%). O gráfico a seguir dá uma ideia da proporção por categorias, conforme dados até a data de publicação deste texto.
Inferências simplórias na realidade são perigosas, mas é de se supor que edtechs, como são apelidadas as startups de educação, sobressaiam por envolver menor complexidade, principalmente se oferecem conteúdo sob demanda, sem aulas ao vivo ou outras formas de interação em tempo real. A pandemia também impulsionou esse tipo de negócio.
Fintechs, que têm aparecido muito por causa de seu valor de mercado, vide-se Nubank, acompanham o boom da “financeirização” da vida e são importantes tanto para pessoas físicas (bancos, cartões, empréstimos, etc.) quanto como solução entre empresas (processamento de pagamentos, por exemplo).
Mercado de atuação (segmento) pode ser uma informação interessante para candidatos a vagas. Ajuda no fit (ajuste) do profissional com a empresa — o candidato pode ter afinidade ou paixão por um tipo de mercado, como games, do que com saúde ou micro mobilidade (aluguel de bicicletas, por exemplo). Com o amadurecimento das startups no país, é provável, também, que haja mais profissionais especializados em determinados segmentos, o que facilita a movimentação entre empresas que atuam neles.
Quanto ao público alvo, quase a metade (47,79%) atende ao mercado B2B (soluções de uma startup para outras empresas). B2B2C (soluções de uma startups que atendem clientes finais de outras empresas) são quase um terço e B2C (startups que atendem clientes finais), quase 20%.
Esse é um dado que pode até ser contra intuitivo, já que somos muito mais familiarizados com soluções ao consumidor final (modelo B2C), como um Ifood, que usamos no dia a dia. Na verdade, porém, há uma grande quantidade de software técnico (APIs), que facilitam operações e transações entre empresas (em alguns casos até sem interface), que sustentam muitas startups.
O painel da Startupbase traz outros dados, como idade das organizações (a maioria tem mais de 6 anos), o tipo de modelo de negócio (a maioria são SaaS, seguidos de Marketplaces) e a fase em que se encontram. Quanto à fase, a maioria (pouco mais de duas mil) está em “tração”, ou seja, já tem um modelo de negócio consolidado e buscam escalá-lo. Mas chama atenção o segundo lugar, onde quase duas mil se encontram “fora de operação” — um possível demonstrativo da incerteza envolvido nesse tipo de empreendimento.
A fotografia do momento é essa, mais de 13 mil startups, a maioria em São Paulo, com uma leve predominância no setor de educação e em negócios B2B (ou seja, atendem outras empresas e não clientes finais). Ao fim do texto também há curadoria para mais explorações.
As maiores e mais promissoras
O apelido de “unicórnio”, para startups que têm valor de mercado estimado em um bilhão de dólares, foi criado em 2013 por Aileen Lee, investidora-anjo dos EUA, em um artigo no TechCrunch. Desde lá, o Brasil já viu nascer um punhado dessas empresas, a ponto de se praticamente se igualar a países como Alemanha e ultrapassar outros, como Israel (importante pólo tecnológico), na quantidade desses “seres míticos” cada vez menos raros.
Novamente, não há um órgão canônico que contabilize essas empresas e divulgue um ranking cabal delas. As listas divulgadas por plataformas e comunidades de startups podem ter divergências.
A CB Insights, plataforma de inteligência de mercado de tecnologia, ranqueia 12 startups brasileiras, em junho de 2021, como “unicórnios”. A lista, ordenada por valor de mercado estimado, é a seguinte:
Nubank - US$ 25 bilhões1
Quinto Andar - US$ 4 bilhões
Wildlife Studios - US$ 3 bilhões
Loft - US$ 2,9 bilhões
C6 Bank - US$ 2,1 bilhões
Creditas - US$ 1,75 bilhões
VTEX - US$ 1,7 bilhões
Movile - US$ 1 bilhão
Ifood - US$ 1 bilhão
Loggi - US$ 1 bilhão
EBANX - US$ 1 bilhão
MadeiraMadeira - US$ 1 bilhão
O gráfico a seguir facilita o comparativo entre o valor de mercado delas. O ranking também é uma fotografia do momento e pode mudar à medida que mais empresas atingem esse valor de mercado.
Alguns insights relevantes: 10 dessas startups estão no Estado de São Paulo, sendo oito na capital e duas no interior (Quinto Andar, fundada em Campinas, e Ifood, situada em Osasco). As outras duas (EBANX e MadeiraMadeira) estão em Curitiba, no Paraná. Isso demonstra a concentração no Sudeste, com alguma participação do Sul.
Das 12, quatro são fintechs (Nubank, C6 Bank, Creditas e EBANX). Quinto Andar e Loft (e-commerce para aluguéis e compras de imóveis), VTEX (solução para e-commerces) e MadeiraMadeira (e-commerce de materiais de construção e decoração) formam outro grande grupo, relacionado ao e-commerce, na classificação da própria CB Insights, apesar da VTEX ser uma solução corporativa para e-commerce e não um e-commerce propriamente dito. Ifood e Loggi são empresas de logística, com Movile atuando em comunicação (atualmente, é uma grande investidora e desenvolvedora de outras startups) e WildLife, em games.
A Distrito, uma plataforma de inovação para empresas, em sua pesquisa “Corrida dos Unicórnios 2021”, estudo feito em 2019 e repetido em 2021, elenca 15 empresas, 12 que classifica como “unicórnios” e três que classifica como “IPOgrifos” (um trocadilho com outro animal mítico, o Hipogrifo, e IPO, sigla para oferta pública inicial de ações, em inglês), para se referir às empresas que valem mais de um bilhão de dólares e que já tem capital aberto em bolsa de valores.
A lista da “Corrida dos Unicórnios” abrange:
99
Nubank
Ifood
Gympass
Loggi
Quinto Andar
EBANX
Wild Life
Loft
VTEX
Creditas
Madeira Madeira
O gráfico a seguir permite um comparativo entre os investimentos recebidos por cada uma delas, conforme o levantamento. O volume de investimentos também pode aumentar a cada mês.
A “Corrida dos Unicórnios” traz descrição e vários detalhes sobre cada uma dessas empresas, com entrevistas com fundadores de algumas delas e artigos que tratam de aspectos desse mercado. Um desses aspectos, por curiosidade, trata da substituição do apelido “unicórnio” para o de “camelo” para algumas dessas startups, já que a realidade brasileira, muito mais que um ser mítico, exige um animal real, capaz de viver por longos períodos sem água (recursos) no deserto (mercado).
A pesquisa mostra que a maioria desses “unicórnios” ou “camelos”, como se preferir, foi fundada entre 2011 e 2012, ou seja, não são novatas. A que se tornou “unicórnio” mais rapidamente, com apenas dois anos de atuação, foi a Loft. Metade é B2C (atendem ao consumidor final).
Os três “IPOgrifos”, por sua vez, são:
PagSeguro
Arco Educação
Stone Pagamentos
Essas três empresas abriram capital na Bolsa de Valores do Estados Unidos entre 2018 e 2019, ou seja, já tinham negócios escaláveis e sustentáveis, de forma que já não são mais, exatamente, “unicórnios”.
A PagSeguro é uma solução de pagamentos nascida do Uol, avaliada em 18 bilhões de dólares. A Arco Educação fornece uma plataforma de educação, classificada como a maior edtech brasileira, avaliada em US$ 2,8 bilhões. A Stone é outra fintech, que opera uma plataforma de gestão, acesso a empréstimos e soluções corporativas, avaliada em mais de US$ 12 bilhões.
(Vale lembrar que não é necessário uma startup ser classificada como “unicórnio” para abrir capital em bolsa, como aconteceu com a Melliuz e Enjoei, que fizeram IPOs em 2021 na bolsa brasileira.)
Outras fontes, como vimos na própria CB Insights, também incluem a Movile (como dito, ela é considerada uma grande empresa, dona de Ifood, Sympla, PlayKids e outros produtos, de modo que muitos já não a classificam mais como startup) e Hotmart, que ganhou o título de animal mítico mais recentemente.
Há, também, quem tenha listas mais enxutas de “unicórnios” e classifique as demais empresas como aspirantes (ou, no caso em questão, “soonicorns”, outro apelido para startups que estão perto de valer um bilhão de dólares).
Por falar em aspirantes ou “soonicorns”, a pesquisa da Distrito também elenca 17 empresas nesta classificação. Elas são mais diversificadas quanto à localização geográfica e a atuação de mercado, e, em função do crescimento, têm aberto muitas vagas. A lista de “aspirantes” da Distrito têm:
Conta Azul
Dr. Consulta
Neon Pagamentos
Minuto Seguros
Petlove
CargoX
Contabilizei
Pipefy
Olist
Solinftec
Superlógica
Tembici
Fazenda Futuro
Zenvia
Buser
Take
Cortex
O gráfico a seguir permite comparar o volume de investimentos recebidos por elas, segundo o levantamento da Distrito:
Em relação à geografia, além de São Paulo e Paraná, essas empresas estão presentes no Rio de Janeiro (11,8%) e em Minas Gerais e Santa Catarina (5,9% cada). A maioria (41,2) também é mais nova: foi fundada entre 2011 e 2015.
Quanto à atuação de mercado, fintechs estão empatadas com martechs (startups voltadas a soluções de marketing). São quatro empresas em cada segmento. Mobilidade tem outras duas empresas.
As demais sete empresas estão em segmentos específicos — há dois setores, importantes, mas ainda carentes por inovação, conforme a própria pesquisa, que chamam atenção: agricultura (Fazenda Futuro, uma agtech, agrotech ou agritech, os apelidos variam) e saúde (Dr. Consulta). Também há a Petlove, no ramo de animais de estimação, outro mercado considerado bastante promissor no país.
Cenário global
Olhar listas de startups mundiais é como conferir quadros de medalhas das últimas Olimpíadas: Estados Unidos e China brigando no topo, com dezenas de ouros, e uma grande parcela do mundo contando bronzes nos dedos.
Entre os mais de 700 unicórnios, de qualquer maneira, segundo o ranking da CB Insights até junho de 2021, há pelo meno um motivo para orgulho brasileiro no “top 10”: o Nubank, por causa de seu valor de mercado.
A lista completa, que contém outro neologismo, um “hectocorn”, para startups avaliadas acima de cem bilhões de dólares, é a seguinte:
ByteDance - US$ 140 bi (China)
Stripe - US$ 95 bi (EUA)
SpaceX - US$ 74 bi (EUA)
Didi Chuxing - US$ 62 bi (EUA)
Instacart - US$ 39 bi (EUA)
Klarna - US$ 31 bi (Suécia)
Epic Games - US$ 28,7 bi (EUA)
Databricks - US$ 28 bi (EUA)
Rivian - US$ 27,6 bi (EUA)
Nubank - US$ 25 bi (Brasil)
O gráfico a seguir permite visualizar o comparativo:
A ByteDance, o “hectocorn”, é nada menos que a dona do TikTok, o aplicativo mais baixado do mundo em 2020. É uma empresa de Inteligência Artificial tão visada que os EUA flertam com a possibilidade de impedi-la de operar em território americano, acusando-a de espionagem de dados.
Stripe, a sueca Klarna e Nubank são fintechs, o maior segmento da lista, o que confirma a tendência na bancarização digital e financeirização.
SpaceX é a empresa de foguetes e ônibus espaciais de Elon Musk, a segunda pessoa mais rica do mundo. Didi Chunking é uma espécie de Uber chinês, considerada a maior empresa de transporte de passageiros e delivery do mundo, que adquiriu a brasileira 99 em 2018. Instacart é um aplicativo para compras de supermercados, forte nos EUA. Entre as demais, há games (Epic Games, com jogos de grande sucesso), gerenciamento e análise de dados (Databricks) e veículos elétricos (Rivian), o que demonstra outras tendências globais.
Outro ranking interessante, também da CB Insights, é o cenário latino-americano e caribenho, onde o Brasil está. O ranking não leva em consideração o valor de mercado das startups (em que o Brasil, com o Nubank, se sobressai), mas os investimentos recebidos. Nessa lista, a colombiana Rappi é a primeira, seguida do Nubank, com dLocal, uma empresa de pagamentos uruguaia, em terceiro:
Rappi - US$ 1,748 bi (Colômbia)
Nubank - US$ 1,518 bi (Brasil)
dLocal - US$ 200 mi (Uruguay)
Uala - US$ 194 mi (Argentina)
Clip - US$ 147 mi (México)
Afiniti - US$ 117 mi (Bermuda)
Adexus - US$ 100 mi (Chile)
Bitt - US$ 25 mi (Barbados)
Crehana - US$ 23 mi (Peru)
Abartys Health - US$ 4,5 mi (Porto Rico)
Huli - US$ 3,8 (Costa Rica)
YaEsta.com - US$ 3,3 (Ecuador)
Um ponto lateral e curioso: com 1,5 bilhões dólares investidos, o Nubank tem um valuation de mercado estimado em 25 bilhões, quase 17 vezes mais. Isso explica o porquê da “corrida do ouro” de investimentos em startups nas últimas décadas. Não é todo dia que se encontra valorização desse quilate, e com potencial para continuar crescendo.
Em um estudo da McKinsey, que já pode ser considerado “antigo”, de 2019 — a pandemia impactou o cenário —, o Brasil (então com oito unicórnios) já aparecia à frente de Israel, que têm um considerável parque tecnológico, mas apenas quatro startups avaliadas em mais de um bilhão de dólares. À frente estavam países como EUA (156), China (92), Reino Unido (16), Índia (13) e Alemanha (10), por exemplo.
Para não ficar apenas em “unicórnios”, contudo, é interessante olhar o quadro mais geral da economia. Aliás, se alguém ainda se pergunta como ficam as big techs, se elas não se enquadram como startups, é aqui que elas entram. Obviamente, big techs deixaram de ser startups há muito tempo. Hoje são “godzillas” da economia mundial, já que a moda é se referir a animais míticos.
As cinco empresas americanas com maior valor de mercado, segundo ranking de janeiro deste ano, são: Apple (US$ 2,26 trilhões), Microsoft (US$ 1,68 tri), Amazon (US$ 1,63 bi), Alphabet, dona da Google (US$ 1,18 bi) e Facebook (US$ 778 bi). Ou seja, todas as big techs. Na China, o topo do ranking tem Tencent, dona do WeChat (US$ 697 bi), e Alibaba (US$ 648 bi), duas das “big techs” chinesas.
No Brasil, para comparação, apenas empresas tradicionais encabeçam a lista, e com valores de mercado bem abaixo. A lista tem: Petrobras (US$ 71,9 bi), Itaú Unibanco (US$ 55,8 bi), Ambev (US$ 47,4 bi), Bradesco (US$ 28,1 bi) e Vale (US$ 85,9 bi). Stone e PagSeguro estão na 9ª e 10ª posições, respectivamente.
Como essas listas dependem do preço das ações das empresas em bolsa, no momento da avaliação, pode haver variações de tempos em temos, o que gera rankings diferentes, às vezes com Vale ou Petrobras em primeiro no Brasil, dependendo do preço do minério de ferro ou do petróleo. Mas isso já dá uma boa ideia de onde big techs e empresas brasileiras estão no contexto.
Indo além
A quem está interessado em vagas em startup brasileiras, vale lembrar que muitos delas, principalmente “unicórnios” e “aspirantes” costumam aparecer, não raro, em listas das melhores startups ou organizações para se trabalhar, como nesta classificação do Linkedin, de 2020. As oportunidades costumam estar em seus próprios sites, no Linkedin e em sites de emprego voltados à tecnologia.
Por seu tamanho e importância, muitas dessas startups já tem avaliações (tanto positivas como negativas, o que que pode ser um bom termômetro da cultura interna) em sites como o Glassdoor e similares. Profissionais delas têm conta no Linkedin e alguns são influentes em comunidades (alguns são professores dos cursos da Awari, inclusive), o que facilita o networking a quem quer saber mais sobre esse mercado.
Quanto ao aprofundamento na realidade nacional ou mesmo regional das startups, têm surgido bons estudos. Apesar de serem de anos anteriores, a Abstartups possui mapeamentos de comunidades em cada região do país. São interessantes para sair um pouco do eixo São Paulo e ver o que está sendo feito Brasil afora. A associação também tem algumas pesquisas por segmentos.
A Distrito, por meio de seu Dataminer, um monitoramento de startups brasileiras baseado em IA, segundo a plataforma, produz reports com frequência, principalmente sobre segmentos de startups. Além das categorias mais conhecidas, como fintechs e edtechs, há levantamentos sobre startups brasileiras de blockchain, smart cities (cidades inteligentes), legaltechs (jurídico) e ESG techs, na tendências das empresas comprometidas com meio ambiente (environment), responsabilidade social (social) e governança (governance).
A CB Insights faz o mesmo a nível global. Com frequência, são divulgadas pesquisas que vão de investimentos pontuais e recentes em determinados negócios a tópicos como “as maiores aquisições do Google”, startups que utilizam inteligência artificial, comparativos regionais (como o que vimos sobre a América Latina), entre outros.
Para quem quiser se aprofundar nos conceitos e neologismos relacionados aos investimentos em startups, esse dicionário pode ser útil. Pode haver algumas diferenças entre países, já que é nos EUA que tudo começou e mais tem avançado, mas, em geral, já há um dialeto comum mundo afora.
Também sobre investimentos (é óbvio, mas não custa lembrar: investir em startups é a bola da vez do século, talvez só pareada, no momento, por criptomoedas, NFTs e similares), pelo fato de as startups serem empresas privadas, sem capital aberto que permita aferir seu valor de mercado, têm surgido interesse crescente em avaliar esse tipo de negócio, seja por parte de empresas de investimentos, seja por meio de investidores independentes ou influenciadores do meio.
Nos EUA, é comum influenciadores ganharem dinheiro com conteúdo dedicado a essas análises. Algumas iniciativas do tipo provavelmente ganharão escala também no Brasil, com o crescimento do número e da importância das startups. No ramo mais noticioso, já há iniciativas fora da mídia tradicional, por exemplo — nesta referência, inclusive, há um pouco da história de fundos de investimentos “veteranos” no país.
O que fica desse apanhado é a diversidade de iniciativas e inexistência de receitas prontas. Há tanto negócios feitos para queimar caixa e escalar rapidamente quanto aqueles que levam 21 anos para se tornar unicórnios (caso da VTEX, citada no texto, cuja história é relatada na “Corrida dos Unicórnios”).
Há iniciativas que estouram do dia para a noite e depois caem no esquecimento, vários fracassos pelo caminho e sucessos como um Nubank ou um Ifood. Há até as startups “coelho”, ou seja, que não se tornarão “unicórnios”, mas serão úteis e relevantes em contextos específicos e menores (é mais entretenimento do que informação, mas, a quem interessar, há uma “fauna” ou “zoológico” de apelidos para descrever porte e estilo de startups, de zebras a baratas).
Como se vê, o assunto é inesgotável. O que fica é que o Brasil entrou na tendência e tem motivos para enxergar o futuro do setor com otimismo. A PMs e UXs, uma oportunidade: a expertise adquirida no trabalho em startups existentes pode servir não só para migrar de empresas, mas também para fundar startups e contribuir com esse panorama. Estatisticamente, nesse negócio, “unicórnios” ou resilientes “camelos” não nascem do nada ou da escassez, mas da abundância de iniciativas, tentativas e erros.
Voltaremos a tratar sobre startups em outras edições.
Artigo escrito por Rogério Kreidlow, jornalista, que gosta de observar a tecnologia em relação a temas amplos, como política, economia, história e filosofia.
No período da postagem, o Nubank recebeu aporte da Berkshire Hathaway, do famoso investidor Warren Buffet, e saltou para US$ 30 bilhões em valor de mercado. A informação foi atualizada após a publicação do texto na CB Insigths, o que altera o ranking de “unicórnios” mundiais. Vale o já esclarecido: as informações podem mudar repentinamente e é bom acompanhá-las nas fontes citadas de tempos em tempos.