O que “design relacional” tem a ver com projetar para o futuro
Como um termo de 2008, mas que reflete o espírito de nosso tempo — onde nada é absoluto (Einstein) e só restam sistemas auto-organizáveis (Darwin) — pode nos inspirar a pensar e projetar para o futuro
Como diria o físico teórico Lee Smolin em um Ted Talk bem contemporâneo, apesar de ter quase 20 anos (ele aparecerá mais vezes neste texto): “não estou aqui no modo ‘professor’, estou aqui no modo ‘entreter’, ‘surpreender’”. Este artigo vai no mesmo caminho.
Não espere encontrar nele ensinamentos, receitas ou fórmulas para aplicar no design de UX ou de UI do dia a dia. A conversa é sobre questões mais etéreas, sobre ciência, arte e teorias que podem nos ajudar a pensar (e a projetar, o significado etimológico de design, em inglês) o mundo complexo em que cada vez mais nos metemos.
Assim como outras disciplinas que flertam com a estética, a moda e tendências, o design cria e é criado pelo zeitgeist (espírito do tempo) de cada época.
Em um plano micro, assim como nas décadas recentes e na atual, as que virão devem continuar imitando o que os sistemas mobile (iOS e Android) têm ditado, das aparências às heurísticas de uso.
Em um plano macro, porém (que tal pensarmos em 2051, 2068 ou 2095?), talvez valha prestar atenção a uma expressão que agitou círculos artísticos e acadêmicos nos anos 90 e 2000, ganhou força no design em 2008 e ainda recebe menções esparsas. Estamos falando de “design relacional”.
Uma fundamentação do termo nos ajuda a pensar no que futuro imediato nos reserva: ambientes virtuais, reais ou híbridos feitos de acessórios e vestimentas inteligentes, veículos inteligentes, edificações inteligentes, espaços (fazendas, parques, cidades etc.) inteligentes.
Conceito
Algo que sempre vale repetir sobre conceitos: eles nos ajudam a entender a relação da linguagem com a realidade física ou imaginada, mas não são “verdades” escritas em pedra, eternas e imutáveis. Normalmente, são moldados pelo uso e prática coletivos ao longo do tempo, e podem assumir significados até mesmo contraditórios, dependendo das convenções dominantes.
“Design relacional”, portanto, não é algo pronto, mas uma expressão em construção — que, mesmo assim, pode nos inspirar a entender e, quem sabe, projetar nosso contexto.
Um marco para a entrada do termo no design foi o artigo “Towards Relational Design” (“Para um design relacional”), do designer e curador Andrew Blauvelt, no portal “Design Observer”, em março de 2008. O autor discorre sobre três fases do design moderno:
fase da forma, a partir do início do século XX, fase de muitos ismos, como Futurismo, Construtivismo, etc.;
fase do conteúdo, a partir dos anos 1960, com a construção de significados, por parte de designers, como autores, a um público;
fase do contexto, a partir dos anos 1990, em que se passa a explorar a dimensão performativa do design, seus efeitos sobre usuários, restrições e capacidade de facilitar interações sociais.
Ou, nas palavras do próprio autor: “no jargão da semiótica, da sintaxe à semântica e à pragmática”.
Blauvelt dá bastante ênfase ao usuário real que surge no contexto das mídias sociais, em vez do usuário idealizado que até então se tinha. Fala dos movimentos do “faça-você-mesmo” (“do-it-yourself”), do “prosumer” (produtor-consumidor) e lembra a capa da Time, de 2006, que elegeu “você” como a pessoa do ano, em homenagem aos milhões de usuários da Internet. Comenta, também, sobre sistemas generativos e fala bastante em programática e pragmática, além de dar exemplo de experiências no design gráfico e na arquitetura que ilustram tais características.
Ao fim, ele dá uma definição de “design relacional” que, em certo sentido, traz um sopro otimista à disciplina, em uma época em que já se questionava o futuro da profissão frente a novas tecnologias:
“Se a primeira fase do design nos ofereceu formas infinitas e a segunda fase, interpretações variáveis [...] então a terceira fase apresenta uma infinidade de soluções contingentes ou condicionais: sistemas abertos em vez de sistemas fechados; restrições e contextos do mundo real sobre utopias idealizadas; conexões relacionais em vez de imbricação reflexiva; no lugar do designer abandonado, a possibilidade de muitos designers; a perda de projetos que são altamente controlados e prescritos e a ascendência de sistemas habilitadores ou geradores; o fim de objetos discretos, significados herméticos e o início de ecologias conectadas”.
Antes de Blauvelt, na arte (ela costuma se antecipar), o crítico francês Nicolas Bourriaud já havia introduzido o termo “estética relacional” em 1996, no catálogo de uma exposição, analisando-o, em seguida, em seu livro “Relational Aesthetics”, de 1998, o que ajudou a popularizá-lo. Mas Bourriaud acabou criticado no âmbito do design porque havia reduzido “relacional” a relações “inter-humanas”, enquanto para Blauvelt relações humanas e sociais seriam apenas algumas das possíveis dentro de um conjunto de relacionamentos mais amplo.
Einstein e Darwin
O que torna mais interessante a abordagem de Blauvelt são as conexões que podemos fazer entre os paradigmas de design citados por ele (a passagem da forma, ao conteúdo, ao contexto) com as visões cosmológicas e paradigmas da ciência ao longo dos tempos, até chegarmos na Teoria da Complexidade, que nutre muitos campos do conhecimento atualmente.
Aqui, podemos voltar ao que Smolin apresenta no Ted Talk lá no início. Sua fala se detém na nossa compreensão científica do cosmos. Para isso, cita três paradigmas do Ocidente ao longo de eras, cada qual com seus conceitos dominantes:
A visão aristotélica, hierárquica, do universo tendo a Terra ao centro (geocentrismo) e várias esferas ao redor, sendo que a última esfera aquela que abrange tudo, eterna e perfeita onde Deus vive. É o que está representado no planisfério de Ptolomeu e que rege o mundo Antigo e Medieval, sua teologia e filosofia, por vários séculos.
A visão newtoniana, do século XVII, do Iluminismo, da mecânica clássica, em que já não há um centro no universo (Galileu já derrubou o geocentrismo), em que as partículas se movem de acordo com uma estrutura fixa e absoluta no espaço-tempo, onde os objetos são estáticos, vistos sem contexto, a razão é pura e Deus, sem um lugar neste universo, habita fora dele. É a engrenagem que move as ciências naturais e teorias como o Positivismo, por exemplo.
A visão einsteiniana, da relatividade geral, do universo em que não há nada fixo nem absoluto, em que só se pode falar de um objeto em relação a outro, onde não há mais um observador onisciente ou inteligência externa (Deus); e darwiniana, e em que a criação, portanto, se dá por meio de processos de auto-organização, de seleção natural, de adaptação e evolução. É o que rege a complexidade, o mundo das propriedades emergentes (“o todo é mais que a soma das partes”), presente em muitas disciplinas, da Economia à Biologia, da Física às Artes.
O conceito de design relacional, pois, casa com esta terceira visão, a einsteiniana-darwiniana, da relatividade geral e dos sistemas auto-organizáveis.
Essa conexão é aproveitada e extensamente discutida na tese “A Relational Design Process”, do designer Daniel Neville. O texto é bastante extenso, mas vale a leitura, principalmente em sua conceituação teórica. Boa parte do trabalho, que é de 2011 (já fazem dez anos!), procura conectar essa conceituação a logotipos, área do design gráfico, e pode soar um pouco pretensiosa em encontrar novos caminhos para o design, mas é interessante pela argumentação.
Na tese, Neville demonstra que a ciência da complexidade acaba por equilibrar a ciência reducionista da Modernidade (aquela que quebra o todo em partes para entendê-los, mas não resolve o problema de colocar as peças juntas novamente) e o Pós-Modernismo, que rejeita qualquer noção de verdade, considerando-a apenas uma construção social. E citando Philip Galanter, que usa a ciência da complexidade na arte, destaca alguns trechos que podemos aproveitar:
“[...] em vez de valores absolutos ou relativos, valores distribuídos que dependem de seu contexto para ditar o valor. Em vez de autoridade e contenção, feedback.”
Outro trabalho que vai na mesma linha é “Relational Design Thinking”, de Ming Shi, que repete a conceituação teórica de Neville e também cita Smolin, e que procura unir design generativo e relacional em uma abordagem mais harmônica. O “Conditional Design” também esbarra nas mesmas ideias, quando diz que “o processo é o produto”, que “os aspectos mais importantes de um processo são o tempo, o relacionamento e a mudança” ou que regras devem ser usadas como restrições. (Lembrando que esses trabalhos podem soar desfasados em alguns aspectos e o que vale são conceitos que podem ser recortados deles).
Retomando Blauvelt, em outro artigo, na “Walker Art”, também em 2008, com extratos de uma série de palestras de design relacional, ele resume bem o conceito em alguns pontos (com destaques nossos):
“não é um movimento ou estilo per se, mas sim uma forma de compreender, explorar e reexaminar o papel do design e dos designers no ciclo de vida dos artefatos que produz;
“pode ser visto como um método ou abordagem para a geração de forma (ou seja, design);
“representa uma ampla gama de práticas em uma variedade de campos de design e essa diversidade, juntamente com uma abordagem mais orientada para o processo, significa que os traços estilísticos comuns não revelarão tais tendências;
“embora o design relacional seja emergente com o advento da interatividade e conectividade no mundo digital, ele não se limita a zeros e uns. No entanto, muitas vezes usa essas metáforas como um procedimento operacional;
“adota restrições e condições como oportunidades, não obstáculos. Tende à redução da subjetividade no processo de design ou transfere o subjetivo a outros na rede de relações;
“só é realmente completo dentro dos limites de seu ambiente ou contexto imediato.”
Impactos
O que é interessante notar dessas conceituações que inspiram o design para o futuro? Principalmente, considerando que já estamos treinados, como produtores e como consumidores, em UX e UI, em Design Thinking, em Business Process Design e em outras áreas que o design já penetrou, e sem uma narrativa maior (se é que isso ainda faça sentido, ou pelo menos com algo capaz de nos nortear além da criação de heurísticas que apenas grudam e viciam usuários em aplicativos).
Vamos pensar além das telas. A penetração de dispositivos inteligentes nos mais diversos tipos na sociedade, impulsionados pela IoT (Internet das Coisas), pelo 6G e por um big data sem precedentes, irá impactar em nossas relações com a realidade de uma forma ou de outra. Não sabemos como e seria futurologia demais propor cenários, mas certamente teremos hábitos, rotinas e práticas modificados, criados ou descontinuados.
Dentro de sistemas inundados por dados e por relações e correlações entre eles — do trânsito que enfrentamos à nossa prática de corrida ou pedalada, de cozinhar, usar o micro-ondas ou a máquina de lavar a tomar banho e dormir, de nossa relação com a terra e outros animais (inclusive os a serem “inventados”, vide a SinBio, biologia sintética), das (prováveis) jornada em ambientes virtuais, simulados ou não, que viveremos —, seremos “partes” de uns ou muitos “todos”, em relação com outras partes, humanas ou não humanas (estas, por sua vez, biológicas, inorgânicas ou biônicas).
Projetar para a interação entre as “partes” de cada sistema e a interação de sistemas uns com outros exigirá que se leve em conta “restrições” e “condições”, como aponta Blauvelt, compreenda-se as propriedades emergentes (o “todo” imprevisível que emerge dessas interações), permita-se ou lide-se com a auto-organização das partes, e considere-se a possibilidade de desordem e caos.
Para ficar em um exemplo simples, pensemos no aspirador Roomba, que Blauvelt inclusive cita em seu artigo, embora mais do ponto de vista de personalização, do do-you-make-yourself. A tarefa a que o robô se propõe é tosca de tão simples. Mas, uma vez posto em operação na realidade, ele irá interagir de forma imprevisível com o sistema complexo de uma casa, onde pode haver objetos, animais, plantas, pessoas. Embora boa parte de seus sensores e de sua Inteligência Artificial faça o trabalho pesado de desviar de obstáculos, o ato de projetá-lo e aprimorá-lo deve levar em conta como imprevistos da realidade (água ou cocô do cachorro, por exemplo) irão afetá-lo, além de se é seguro crianças ou animais ficarem por perto enquanto ele estiver operando. Ou seja, o projeto vai além do objeto, a ponto de ser muito mais fundamental considerar seu relacionamento no ambiente, no sistema.
Outro exemplo, mais complexo, é o de uma casa inteligente. Aqui, estamos falando praticamente de um sistema novo e desconhecido, com partes inorgânicas que irão interagir com partes biológicas. Um artigo do Gizmodo, divertido de ler e muito rico em descrições, mostra um pouco como é viver em uma smart home na prática (a experiência foi feita para verificar a espionagem da privacidade de dados em uma casa deste tipo, mas serve como um ótimo caso).
A proprietária, conta, por exemplo, que teve de baixar 14 aplicativos diferentes para controlar tudo que a casa fazia — só a cafeteira tinha um contrato de serviços bastante longo, segundo ela. As luzes de Natal não acenderam como deveriam e, quanto às luzes normais, tinha-se de ir em cada cômodo e pedir claramente para que fossem apagadas. O próprio Roomba que equipou a casa não fez só o trabalho de limpeza: gerou uma série de notificações no smartphone da dona informando que estava preso, cheio ou que o trabalho de limpeza havia parado do nada. Os exemplos mostram emergências de um sistema complexo e como as partes operam isoladas, sem capacidade de auto-organização.
Extrapole-se isso para um ambiente urbano, um bairro ou uma cidade inteira, com todo o marketing em torno de “cidades inteligentes”, e não é difícil perceber como há pontos cegos a serem considerados. A implantação pura e simples de dispositivos ditos “inteligentes” — postes, bueiros, sensores de alagamento, semáforos etc. —, mas projetados e operando de forma isolada, ou seja, sem capacidade de conexão com o todo, não gera um sistema inteligente, mas pode gerar bastante transtorno e burrice automatizada. Um design para o relacionamento entre essas partes pode antever e amenizar prejuízos. Tudo bem que não é nada fácil prever comportamentos de um sistema, mas não considerar as tais propriedades emergentes na hora de projetar partes pode ser não só ineficiente como perigoso.
Um parênteses interessante quanto ao relacionamento de abordagens determinísticas em ambiente complexo. No livro “Porque generalistas vencem em um mundo de especialistas”, David Epstein lembra que a especialização extrema levou equipes bancárias americanas, após a crise de 2008, a situações absurdas. Enquanto uma área do banco especializada em empréstimos hipotecários permitia que um proprietário pagasse menos por um imóvel, outra área especializada notava que o dono da casa estava pagando menos, declarava inadimplência e tomava a casa. “A superespecialização (para o nosso caso, o mesmo que projetar sistemas individualmente e de forma determinística, sem considerar suas possíveis relações) pode levar à tragédia coletiva mesmo quando cada indivíduo toma separadamente o curso de ação mais razoável”, conclui.
O próprio ato de projetar para a não perturbação, o não consumo de atenção (não envio de notificações, por exemplo), em um smartphone ou em qualquer relógio de pulso inteligente, é uma forma de considerar aspectos relacionais.
Embora ainda seja bastante focado em jornadas de usuário “determinísticas”, o próprio design de serviços (service design) bebe muito das referências sistêmicas e pode ter em tópicos como auto-organização de sistemas áreas vastas a explorar.
Os games multiplayer são, talvez, os melhores exemplos da auto-organização. Dada uma determinada mecânica e artefatos (condições e restrições), usuários podem criar dinâmicas, por meio de relacionamento e evolução, que ampliam ou subvertem as possibilidades iniciais dadas, às vezes tornando o jogo mais interessante do que sua proposta original — por exemplo, em algum jogo no estilo first-person shooter (tiro em primeira pessoa), um grupo pode acordar de não utilizar armas de fogo, apenas armas brancas, o que modifica bastante a forma de interação.
Inspirações
A mensagem que o design relacional nos transmite é tanto uma forma de compreender o tempo em que vivemos como um estímulo para projetarmos “sistema sociotécnicos complexos”, para usar uma expressão de Don Norman, um dos “papas” do design, ao falar sobre service design como o design do futuro.
Em vez de enxergarmos usuários como hamsters dentro de playgrounds determinísticos, os quais visam fazê-los percorrer um labirinto para ganhar uma migalha de recompensa no final (alguma semelhança com algumas jornadas de uso atuais?), percebermos humanos e não humanos como agentes capazes de conduzir, construir e corrigir o sistema em que estão inseridos por meio de suas interações. Dar margem para a liberdade, o improviso e as emergências.
Ou, como diz Joi Ito, capitalista de risco e ex-diretor do MIT Media Labs, em “Forget about artificial intelligence, extended intelligence is the future” (“Esqueça a inteligência artificial, a inteligência estendida é o futuro”), na Wired, um artigo que faz um contraponto contundente à ideia de que a IA irá substituir tudo:
“Em vez de pensar na inteligência da máquina em termos de humanos versus máquinas, devemos considerar o sistema que integra humanos e máquinas — não a inteligência artificial, mas a inteligência estendida. Em vez de tentar controlar ou projetar ou mesmo compreender sistemas, é mais importante projetar sistemas que participem como elementos responsáveis, conscientes e robustos de sistemas ainda mais complexos.”
Ou ainda, em outras palavras, como diz Geoff Mulgan, no livro “Big Mind”: capacidades humanas e mecânicas trabalhando juntas, e com potencial para resolver grandes desafios de nosso tempo.
Para uma leitura cheia de referências e que vai de encontro a essa ideia de “inteligência estendida” (apesar de parecer um tanto esotérico, o termo tem fundamento em conectar inteligência humana, inteligência artificial e outras possíveis formas de inteligência, como de outros seres vivos, por exemplo), o artigo “Beyond human-centred design, to?” é uma boa dica. Faz um apanhado interessante de sete abordagens de design — relacional, de contrapeso, de consciência coletiva, ecossistema, de consequência, centrado no trabalhador, além do humano e centrado na vida — que tem a ver com o pensamento sistêmico.
Dentro dessa visão, mais ampla, não antropocêntrica, talvez acabemos por “solucionar”, também, uma de nossas necessidades mais básicas, como seres humanos, que às vezes a tecnologia mais parece complicar do que facilitar, e que provavelmente é a primeira associação que nos vêm à cabeça quando nos deparamos com o termo “relacional”: os relacionamentos entre nós mesmos.
Podemos resgatar uma fala de Fred Van Amstel, um dos pioneiros em usabilidade do Brasil, na #DEXCONF de 2019, que, de certa forma, junta essa necessidade por mais relacionamentos do que apenas experiências e perpassa a busca de novos paradigmas para o design, que o “design relacional”, lá de 2008, se propôs:
“Qual seria o próximo paradigma? Bom, eu estou reunido com os meus colegas professores da Universidade Tecnológica já há alguns meses para pensar nisso, e a gente está montando um programa de mestrado com foco em relações, então a gente está imaginando que o futuro de projetos voltados para relações de longo prazo, porque um dos grandes problemas, uma das grandes carências que nós temos hoje é que a tecnologia é uma das grandes culpadas por estar nos privando de relações. Relações de várias coisas, não só relações humanas, relações amorosas, afetivas, porque com as redes sociais isso se transforma em número, e quando é número não é relação, mas também relações simbólicas, relações de sentido. Relações são algo que valem mais que a experiência, porque a experiência é algo fugaz, você termina esse evento aqui, você passou por uma experiência, mas o que fica? As relações que você cultivou nesse evento, as pessoas que você reencontrou ou que você conheceu, é isso que vai gerar valor na sua vida, então eu imagino muito mais um design voltado para relações como sendo o próximo passo dessa nossa disciplina.”
Projetar para relacionamentos além do humano, pensar em propriedades emergentes, mais do que em objetos ou pontos isolados e desconexos, é uma mensagem que os manifestos do design relacional e de linhas que cruzam com ele pode inspirar para o desenho de experiências, serviços e interações (e seus efeitos) do futuro, em que a complexidade terá de ser levada em conta.
Artigo escrito por Rogério Kreidlow, jornalista, que gosta de observar a tecnologia em relação a temas amplos, como política, economia, história e filosofia.